Reciclagem do futuro: enzimas e computação visam reduzir o impacto ambiental do PET
Pesquisa foi destaque na primeira edição da ACS Macromolecules de 2025.
Por Simone Colombo
Usar a biotecnologia para reciclagem do plástico (PET - Politereftalato de etileno). Este é o foco de uma nova pesquisa que começa a ser desenvolvida no Departamento de Biotecnologia da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP pelo aluno de Pós-Doutorado, o pesquisador Dr. Marcelo D. Polêto. O trabalho traz uma abordagem inovadora ao descrever as interações moleculares do PET com alta precisão para o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes e sustentáveis, para a reciclagem do material.
O descarte inadequado do plástico provoca danos incalculáveis para a humanidade. Estudos recentes revelam que minúsculas partículas de plástico (microplásticos) têm sido encontradas na água potável, no solo, em aves, o que traz graves danos ao meio ambiente e à nossa saúde.
Sendo assim, desenvolver técnicas de reciclagem que potencializem o reuso do PET para reduzir o seu descarte é essencial para minimizar danos ambientais. E foi pensando em encontrar uma forma de aumentar o aproveitamento do plástico reciclado e prolongar sua vida útil, que o pesquisador, Dr. Marcelo Polêto, participou do desenvolvimento de um novo tipo de modelo computacional a fim de compreender a estrutura e as propriedades do polímero de PET, material amplamente usado em embalagens plásticas e fibras têxteis.

Comumente, a reciclagem de PET acontece por via mecânica, quando o plástico é transformado em granulado para novos produtos; ou por via química, onde o polímero é despolimerizado para a fabricação de novos materiais. Polêto explica que a que a reciclagem mecânica leva à deterioração das propriedades mecânicas do material reciclado (conhecido como “downcycling”), o que limita seu uso continuado e leva ao seu descarte precoce. Já a reciclagem química gera certo dano ambiental ao trabalhar com reagentes tóxicos ou de difícil descarte.
Segundo Polêto, modelos computacionais podem fornecer muitas informações detalhadas para acelerar o desenvolvimento de catalisadores mais eficazes para a degradação do plástico ao nível molecular. Com essa técnica é possível reciclar o polímero sem a perda de propriedades materiais. Isso promoveria uma redução no descarte do material no meio ambiente e uma economia circular. “Nosso objetivo é alavancar uma tecnologia nacional e de ponta para a reciclagem sustentável de PET”, salienta.
Polêto explica que a reciclagem por via biotecnológica utiliza enzimas especializadas em despolimerizar a parte amorfa do PET. O desafio, contudo, consiste em despolimerizar também as regiões cristalinas e mais duras do PET, que chegam a contabilizar 40% de todo material.

A relevância do seu trabalho foi reconhecida internacionalmente. A pesquisa foi capa da primeira edição de 2025 da renomada revista ACS Macromolecules.
Os estudos tiveram início na Universidade americana Virginia Tech (EUA). De volta ao Brasil, Polêto escolheu o Departamento de Biotecnologia da EEL/USP para se aprofundar nas investigações a fim de aproveitar a competência gerada pelas pesquisas ali desenvolvidas sobre degradação de outros materiais recalcitrantes, como lignina e celulose.
Ao abordar uma questão crítica de sustentabilidade, o trabalho reflete o compromisso da USP com o avanço científico e tecnológico, contribuindo diretamente para a proteção ambiental e para o bem-estar da sociedade. Segundo Polêto, essa é uma corrida tecnológica global: “Deter essa tecnologia significa criar uma economia inteira em torno de uma matéria-prima extremamente barata: o lixo!”.
Mais informações: (mdpoleto@usp.br)